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sábado, 10 de maio de 2008

Imprensa

Objetividade e imparcialidade da imprensa
- Rasgaram o Código de Ética -
Apesar do objetivo desse espaço ser o de tratar de política e de seus caminhos, deve-se levar em consideração que política deve levar à cidadania. Falar em cidadania lembra que os meios de comunicação de massa são formadores de opinião, de comportamento, de indução ao consumo e poderiam ser também formadores de cidadania.

O que dizer sobre o modo como algumas emissoras de televisão estão conduzindo o telejornalismo no caso Isabella Nardoni? Antes, a imprensa em geral, fosse ela via jornal, rádio ou televisão, noticiava apenas o fato. Para comentar os fatos, havia programas de rádio e televisão ou espaços específicos nos jornais.

Sempre houve e sempre haverá a tendenciosidade. Porém, era mais sutil. A opinião do jornalista ficava nas entrelinhas, na forma de conduzir o texto ou “descer a matéria”, como se diz no jargão jornalístico. No texto escrito, centrava-se na prioridade que se dava a um dos seis itens que compõem o lide e o sublide: o que, quem, quando, como, onde e por que. No que o redator citasse primeiro, podia-se ver sua prioridade. Certo é que essa prioridade é em função de chamar a atenção do leitor para ler o corpo da matéria, mas também traduz a opinião do redator e aí está a tendenciosidade nas entrelinhas.

Hoje, principalmente nos telejornais do formato da Record e da Band, com exceções, claro, o fato é comentado e carregado com a opinião pessoal do locutor, quando deveria no máximo ser analisado. Tais telejornais, querendo ter bons índices de audiência, abraçam um fato crítico com tal ênfase e lhe dá um tratamento tão dramático e sensacionalista, através da emissão das opiniões pessoais dos locutores, que acabam incorrendo no erro de julgar. Essa ênfase influencia sobremaneira o público. Ou os telejornais esquecem que são formadores de opinião? É o cúmulo da tendenciosidade explícita!

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, em seu Artigo 7º, inciso V, é claro ao dizer que o jornalista NÃO PODE “usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime”. Há de se considerar a possibilidade de se estar incitando a massa humana à violência, o que pode levar a crimes, e aos outros itens do momento em que se faz telejornalismo da forma como as emissoras citadas vêm fazendo.

O Artigo 9º do mesmo Código é claro sobre a responsabilidade do jornalista, quando diz: A presunção da inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística. Ainda, no 10º, que “a opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade”. Já no 11º, inciso II, que o jornalista NÃO PODE “divulgar informações de caráter [...] sensacionalista [...], especialmente em cobertura de crimes [...]”. Neste caso, onde se lê “de caráter sensacionalista”, leia-se de “forma sensacionalista”.

Tanto se criticou a Rede Globo por servir a A ou B, por trazer filmes “enlatados”, por produzir uma cultura artificial e criar uma realidade estrangeira no brasileiro. Entretanto, ela está dando o exemplo de condução da veiculação da informação em um telejornal. Informa os fatos. Sua característica tem se mostrado mais sutil, formando opinião, sim, mas pelo método de mostrar as imagens dos aglomerados humanos à volta da residência dos Nardoni e de seus pais, bem como a reação dessa massa humana.

Não se está aqui defendendo ou acusando alguém a quem um crime esteja sendo imputado. Se assim fosse, estaria havendo a mesma incorreção aqui criticada. O que se quer dizer é que a imprensa não tem o direito de pré-julgar. Não é essa sua função, não importando se feito por jornais, emissoras de rádio ou de televisão. O que acontece no caso da menina Isabella é que a imprensa julgou. O casal vem sendo julgado desde o início dos acontecimentos pelos telejornais, pela emissão das opiniões dos locutores, e levando a massa a julgar. Não importam os laudos periciais, as opiniões do promotor, dos advogados e demais envolvidos. Todos podem e devem ter suas versões e opiniões próprias, menos o jornalista encarregado de divulgar a notícia ou o locutor de rádio e televisão. Estes, fora do espaço adequado à análise – e somente análise – dos fatos, devem se ater à divulgação dos fatos.

Isso faz lembrar que os membros de um Júri Popular devem também ser imparciais. Será encontrado algum jurado imparcial, quando a massa de telespectadores está sendo bombardeada pela opinião dos telejornais? Quem tem o direito de julgar antes do júri?

Cria-se assim um clima de comoção social ainda maior no público-alvo, que conduz a um resultado nada satisfatório para a própria imprensa, na medida em que deixa de exercer o papel de informante, papel para o qual está qualificada, para exercer o papel de juiz, cargo para o qual não está habilitada.

Deve-se ser a favor do livre pensamento e da imprensa livre, mas que esta seja moderada, que se atenha a informar fatos e comentá-los em espaços adequados. Se ainda se estivesse falando de jornalismo investigativo, vá lá, mas está se falando de especulação.

3 comentários:

Gato sem olho disse...

Chegará o momento que a sociedade poderá dar o veredicto, baseado em provas apresentadas, sobre este caso, através de representantes anônimos designados para isso.Seria o suficiente, mesmo que crimes bárbaros como o que ocorreu despertem na gente a indignação e desejo de maior justiça.

As coisas mais odiosas para o homem, com o tempo e o hábito, tornam-se naturais.

O respeito à vida, por exemplo, não é muito lembrado pela maioria das pessoas.

Alguém que aperta o gatilho pela primeira vez pensa que matar é natural, comum. Não passa por sua cabeça que a fragilidade do outro é a sua também. Sente o poder de eliminar todo o direito, tudo o que o outro é; como se o mesmo não pudesse acontecer consigo.

Todo este prólogo para dizer que a virgindade é a mesma para todas as coisas. Foi isso que aconteceu com a imprensa, com a liberdade tomada pelas emissoras, com a falta de caráter da exploração do sensacionalismo: depois do Ratinho e não sei mais o que que havia antes disso. Alguém ousou ser anti-ético e isso soou natural, pois nada aconteceu; pelo contrário, o povão se impressionou e não conseguiu parar de ver. Então chegamos ao que vemos hoje.
Da mesma forma que determinados grupos religiosos e de grande apoio popular sentem a liberdade de desrespeitar as outras opiniões e credos, já que nada é feito para impedi-los, a mídia sufoca os direitos do indivíduo, moldando a massa para que o massacre, sem que ao menos tenha o direito de se explicar.
Cada partícula da massa é formada por um homem. E ele é inocente, desde que se prove o contrário; qualquer pessoa pode me jogar uma pedra e dizer: peguem-na! ela deve! Eu sou inocente e tenho o direito de provar isso!
Caso contrário, aponto para toda a massa e digo: ela é culpada de destruir um homem!
Certamente ninguém me ouvirá. Na democracia, devemos dispor de mecanismos para que o mais forte não sufoque o outro. Temos que ser iguais!

Gato sem olho disse...

Para constar, minha identidade agora é esta! Porque sempre foi, mas eu estava disfarçada de Áurea...

Repensando Política e Comunicação disse...

Tem toda razão, Áurea. O respeito aos direitos é fundamental. Não falo apenas dos famosos "direitos humanos", aqueles que parecem mais proteger os que praticam crimes do que suas vítimas. Falo do respeito aos direitos em geral.

Enquanto a violência ainda estiver banalizada, será sempre preciso mais sensacionalismo para atrair os telespectadores para uma nova notícia de violência.

Esse sensacionalismo é, em si mesmo, uma violência. Violência inclusive aos direitos da própria criança. Senão, vejamos: algumas mães já se pronunciaram desfavoráveis à forma de divulgação desse crime porque está afetando a boa relação do ex-marido com a filha.

Pergunto, no caso específico dessas mães que não concordam com esse sensacionalismo: onde está o Juizado da Infância e Juventude? Ele não deveria proteger os interesses da criança? E não vale dizer que crianças não deveriam estar assistindo ao telefornal, porque sabemos que assistem. Estão à espera da novela que os pais querem assistir, bem como elas mesmas.