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terça-feira, 3 de junho de 2008

O carioca, a violência e a ONU

Que a violência está presente no dia-a-dia do brasileiro todo mundo sabe. Em maior ou menor grau, ela nos faz morar com grades nas janelas, sair sem saber se haverá volta ou se seremos vítimas de balas perdidas.

Assim é a vida do carioca. “Sei que saio, mas não sei se volto.” As autoridades estaduais e federais também sabem disso. Essa violência assola do pobre ao rico indiferentemente. Perpassa a vida do que sobe o morro e do que mora na cobertura de Ipanema, Zona Sul e nobre do Rio de Janeiro.

Em cidades do interior do mesmo Estado, em menor proporção, ela também se faz presente. Seqüestro-relâmpago, assaltos em portas de bancos com o dia claro, assaltos a residências etc. Assim, as casas são gradeadas e os moradores ficam presos em suas moradias, enquanto os bandidos estão soltos.

Você sabe disso? Eu também. As esferas governamentais também. Precisamos que venha alguém de fora nos dizer isso? O relator especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extrajudiciais, Philip Alston, fez um relatório preliminar sobre assunto e vai colocá-lo em pauta na ONU. A violência acontece de norte a sul do país e não é privilégio do terceiro mundo. No primeiro mundo, ela também está presente. Nos EUA, em Nova Iorque, por exemplo, ela está ao mesmo nível da do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Não entendo o porquê de Mr. Alston não fazer um relatório sobre o Harlem, bairro pobre de Nova Iorque, sobre o Bronx ou mesmo sobre Nova Iorque inteira. Poderia também dissertar sobre a violência nas escolas americanas de classe média-alta, onde adolescentes levam armas para as salas de aula e cometem chacinas. No primeiro mundo pode?

Somos um país especialista em Planejamento. Temos ótimas universidades com mestrado e doutorado no assunto. A Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – e a Universidade Cândido Mendes – UCAM – são exemplos. E são de alto nível de ensino! A violência não se combate apenas com confrontos, apesar de serem eventualmente necessários. Uma política pública de segurança eficaz precisa de planejamento de médio e longo prazo. Esse planejamento precisa passar por macro-assuntos, como a oferta de emprego, diminuição das desigualdades, melhoria da oferta de serviços de saúde à população, educação instrucional de qualidade, melhor remuneração para professores e policiais, além de tantos outros itens.

Talvez, o conhecimento da violência carioca pela comunidade internacional traga algum impacto benéfico para nossas autoridades. Afinal, a violência afeta o turismo, que afeta também o comércio e a relação de empregos vinculados a esses setores. Porém, fico me perguntando por que precisamos esperar que venha algum organismo internacional nos dizer o que estamos vendo e sofrendo na pele. E, quem sabe, até mesmo planejar por nós!

5 comentários:

Gato sem olho disse...

Quanto mais gente num espaço menor, maior a violência. Isso acontece em qualquer lugar. É só ter desequilíbrio social, muita pobreza, que isso acontece. Há de se considerar que o Rio também é um paraíso infernal! Todos os ricos e pobres querem estar lá ou precisam estar lá. Estão lá.

Eu, por exemplo, quero e preciso, ao mesmo tempo, estar no Rio. E não temo a violência do Rio - porque não é a violência do Rio, mas a de qualquer lugar, é a violência urbana deste país de miseráveis, dondocas e ladrões!

O Rio tem muito mais o que vale a pena que essa violência toda difundida. É uma cidade única, elegante, não perde o espírito afetuoso de bairro, por maior que seja, acolhedora... Cheia de segredos, de coisas maiores - que não nos deixam afogar com nossos pequenos problemas, em nosso próprio umbigo. Uma cidade para ser abraçada, cheia de ternura.
O resto é culpa do mundo, do sistema, do que não é Rio e chega tentando adoecê-lo.

O que de ruim me aconteceria no Rio, antes teria de me acontecer em qualquer outro lugar do mundo!

O Rio é lírico como o fluxo de pensamento de Rubem Fonseca.

Anônimo disse...

Infelizmente faço parte de uma porcentagem da população que conheçe o Rio apenas pelos noticiários. E, diga-se de passagem, a realidade do Rio é bem triste. Pessoas tendo que se esconder para não ser alvo de balas perdidas, turistas sendo mortos por conta de uma pequena jóia pendurada no pescoço, etc.. Realmente essa é uma história que gostaríamos que terminasse logo. Todos somos responsáveis por essa realidade. A medida em que não lutamos por nossos direitos, não exigimos de nossos governantes medidas mais árduas e severas contra essa violência insana que assola não só a cidade do Rio, mas todo o nosso país. Está chegando mais uma vez o período eleitoral. Quem sabe se nós fizessemos valer o nosso direito de cidadão nas urnas, escolhendo candidatos mais coerentes com as necessidades de nosso país, talvez haja saída para esse tunel sombrio da violência urbana no qual caminhamos a muito tempo.

Repensando Política e Comunicação disse...

Olá, Áurea.

Vê-se claramente que você é amante da “Cidade Maravilhosa”. Realmente, em matéria de lazer cultural, não há nada melhor. O Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB –, na Candelária, é uma Europa dentro do Rio de Janeiro. Lá dentro, encontram-se teatros, cinemas, vídeos e exposições, tudo a preços que a grande maioria pode pagar, além de uma cafeteria sensacional, onde se podem fazer amizades bastante interessantes.

Ali pertinho, na Cinelândia, ótimos restaurantes e cinemas. Um chope bem tirado, ao fim do expediente, junto ao bate papo gostoso com os colegas de profissão e amigos. Também há algumas academias de dança no centro, para quem gosta do gênero. Ah! A Estudantina, na Praça Tiradentes, onde se pode dançar uma boa gafieira!

Por falar em dança, há um vários bailes, a começar pelo Bola Preta. Bailes à tarde, começando às 14:00 hrs e outros indo até à madrugada. Só não vi ainda baile pela manhã!

A redação da Tribuna da Imprensa também está por ali. Haja nostalgia! Comecei ali minha carreira. Era na base da máquina de escrever Ollivette! Ainda guardo a minha máquina portátil de recordação. Quem sabe um dia não vai para um museu. É possível.

Tudo isso é muito bom, Áurea, mas estamos falando da violência. Para chegar ao CCBB, passa-se por vários lugares cheios de muita insegurança, caso se vá de ônibus. O problema da Cinelândia, muito freqüentada, é a volta para o bairro em que se mora. O problema da Praça Tiradentes, um dos vários terminais urbanos, idem. O mesmo problema para quem trabalha em redações de jornais, fazendo “pescoção”, jargão jornalístico que significa entrar pela madrugada trabalhando.

Claro que, como você explicou muito bem, tudo pode acontecer em qualquer lugar. Porém, infelizmente, apesar do lirismo de Rubens Fonseca e da beleza do Rio de Janeiro, sabemos que é mais fácil acontecer algo de ruim em um lugar mais violento do que em um menos violento.

Abraço.

Repensando Política e Comunicação disse...

Olá, Cris.

O Rio de Janeiro hoje pode ser comparado à Faixa de Gaza É uma guerrilha urbana, infelizmente. Sentimento de impunidade, leis frágeis, polícia prendendo e justiça soltando, a corrupção, tudo isso faz com que a violência aumente cada vez mais.

Como eu disse em comentário anterior, é uma cidade muito bonita e com muitas opções. Porém, traz riscos quando chegamos, enquanto permanecemos e quando saímos, para quem não mora lá. Para quem mora, o risco é permanente.

Abraços.

Gato sem olho disse...

A mídia é sensacionalista. Os barões não são cuidadosos.

O Rio é uma cidade para o povo. E, para o povo, a cidade não é tão violenta assim. Tanto como em qualquer lugar.

Voltar pra casa não é perigoso assim. Morar perto de favela é perigoso, dependendo da favela. Andar distraído é perigoso e não entender onde está também.

Reitero: isso é em qualquer lugar, vai acontecer sempre nos lugares miseráveis.

Eu conheço o Rio, ando pelo Rio.

Tira-se os pontos culturais, tira-se o sem-número de opções de todo mundo, o Rio continua cheio de segredos a serem descobertos.

O que há de ÚNICO no Rio é o que importa. Se fosse só cultura, encontraria na estéril São Paulo. Não há cidade no mundo que se compare ao Rio. E mesmo que pudesse passear pela magnífica Europa, o Rio continuaria contando como um ponto particular, para onde devo retornar e continuar explorando.

Quem não conhece um pouquinho destes segredos não sabe o que é Rio. Quem for à cidade e se hospedar num hotel de luxo dependendo de um guia para levá-lo aos pontos mais famosos do Rio, não o conhecerá.

O que está na boca do povo não é segredo. Mas no Rio há muitos SEGREDOS.

Só mais uma coisa: PRESTE ATENÇÃO AOS CÃES: NO RIO, ELES SÃO MAIS FELIZES. Um indício...