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sábado, 21 de maio de 2011

EDUCAÇÃO X VIOLÊNCIA

Muito se fala sobre a educação no Brasil. Gostaria, assim, de iniciar um debate tão amplo quanto a internet permitir.
"Professora Amanda Gurgel silencia Deputados em audiência pública. Depoimento Resumindo o quadro da Educação no Brasil. Educadora fala sobre condições precárias..." (vídeo ao final)

"Segundo o Banco Mundial, o Brasil é 14º país de maior economia do mundo. A questão é que a maior parte dessa geração de riquezas não é distribuída pelo Estado por meio de ações universais, que reduzem a desigualdade, como o investimento em educação". (Fábio Economista, Facebook, 21/5/2011, 11:40 hrs)

No Facebook, Fábio Economista postou um vídeo com o depoimento da professora do Rio Grande do Norte, Amanda Gurgel, em que é aplaudida por suas colocações bastantes realistas. Bem articulada, ela se refere aos baixos salários que fazem com que o professor procure ter mais de uma matrícula e à falta de respeito à categoria quando é pedido que haja flexibilidade. Gostaria também que Fábio e meu amigo Everaldo Leite (foto abaixo, à dir.), proeminente economista no mesmo município de Fábio, dessem suas contribuição aos pensamentos aqui expostos.

Tenho visto no Twitter elogios à educação goianiense por ter uma escola municipal em primeiro lugar no ranking da educação. Parabéns! Fico feliz com isso, claro. Só não entendo a razão de não se mencionar no mesmo espaço que neste município também está a escola de pior rendimento. Aliás, cabem perguntas. Seria apenas esta em situação ruim? Não estaria a maioria nesta condição? Não seria a “melhor” apenas uma exceção?

A política pública de educação passa por melhores salários, com certeza, mas não somente por isso. Passa também pela falta de condições de reciclagem dos professores, pelas razões expostas na fala de Amanda Gurgel; pela insegurança gerada pela violência intramuros escolares, o que passa por leis que regem inclusive a educação que pais podem dar; pela questão da maioridade penal, o que gera sentimento de impunidade aos “menores”; e por tantas outras coisas.

Everaldo Leite
Foto: arquivo Jornal Opção
Educação passa também por emprego. O imenso exército de reserva brasileiro, entenda-se massa de desempregados, não tem sequer como manter suas famílias com alimentação, roupas, saúde e, que dirá, educação. Este exército passa também pelo estresse psicológico diuturno de ver que não tem muito futuro para ele, que continuará vendo sua vidinha do mesmo jeito em que está por muito tempo e a desesperança bate à sua porta; que não consegue acesso à tão falada política de qualificação de mão de obra. Parece-me também que, sempre atrasado, o Brasil está querendo reinventar o welfair state estadunidense de décadas atrás.
Sobre a qualificação de mão de obra, cabe uma digressão. Como o desempregado, que tem que levar comida à mesa da família todo dia, ficaria sem fazer nada? Ele faz biscates como ajudante de pedreiro, catando latas e papelão e outras atividades do gênero, tudo em período integral. É preciso refletir como e com que tempo ele vai poder se dedicar a um curso de reciclagem. Via de regra, ele se entrega à bebida, à violência doméstica ou, pior, às drogas. Parece-me, então, que a política de qualificação de mão de obra serviria mais aos jovens que ainda não tem as responsabilidades do sustento de uma família. Não seria o caso de uma subvenção às pessoas abaixo da linha da pobreza, para que essas possam dedicar parte do dia a um desses cursos? Com a palavra, os economistas.
Voltando à política pública de educação, vê-se professores sendo agredidos física e verbalmente em escolas de primeiro e segundo graus. Alunos que entram armados e constróem tragédias. Porém, isso não acontece apenas nas escolas que acabei de mencionar. Também no terceiro grau, em faculdades e universidades particulares. Aliado a isso, o aluno não pode ser reprovado; por um lado, pela escola pública, por outro, nas universidades particulares, sem o risco da agressão que pode levar à morte.
Assim, endossando Amanda Gurgel, pergunto: onde está o respeito? O respeito ao professor vem da educação que ele não pode dar em sala de aula e da educação que pais são impedidos por lei de dar. Quando falo de educação paterna, a bem da verdade, não estou falando de castigos físicos, mas de imposições que não podem ser feitas. Sobre isso, caberia outro artigo. Entretanto, quando os jovens erram, os pais são os responsáveis. Mas que paradoxo! Se os jovens não têm educação em casa, levam sua deseducação para a sala de aula e para outros níveis sociais. E temos a baderna que aí está.
Voltarei a este assunto oportunamente. Caso as pessoas mencionadas queiram postar artigos em resposta, basta que se cadastrem. Os comentários são livres.

Um comentário:

Servidores Camaragyn disse...

O relatório State of the World’s Cities 2010/2011: Bridging the Urban Divide (O Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido) é o resultado de um trabalho de pesquisa realizado pela UN-HABITAT (2010) em 138 cidades em 63 países, onde se concluiu que a cidade de Goiânia é a mais desigual do Brasil e a décima do mundo. O relatório baseia-se no coeficiente de Gini, cujos indicadores aferem a concentração de renda dos países, sendo normalmente utilizado para conjeturar a desigualdade de distribuição de renda, e consistindo em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (situação hipotética onde todos teriam a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (situação hipotética onde um indivíduo teria toda a renda, e as demais nada teriam). O índice de Gini goianiense é de 0,65, estando 0,25 pontos percentuais acima da “International Alert Line”, que é de 0,40 e onde se encontra Manila, capital das Filipinas. Portanto, a razão de termos exemplos de escolas tão desiguais no município e termos, por conseqüência, um embrutecimento dentro da sala de aula é por sermos efetivamente uma cidade de desigualdade explícita.
- Everaldo Leite